Pode uma mulher ser 100% livre? Reformulando... Pode uma mulher, brasileira, carioca, independente, sem filhos, around 30 anos, classe média alta, ser 100% livre? Descrevendo o seguinte cenário: uma típica night carioca, um homem, uma mulher, clima, bebida, curtição... Porém, ela vai embora sozinha! Pq? Parece existir uma burca invisível que rege códigos de conduta em pleno século XXI. A mulher carioca se acha super avantgarde por ir seminua a praia e no entanto ainda se prende ao julgamento do outro quando o assunto é sexo. Vc quer que ele te ligue? So...
No Rio de Janeiro, o flerte anda por todas as partes, mas é um flerte de açougue... Podemos ser um file mignon ou uma alcatra, um contra-filé! A bunda é a questão central! Ela tem vida própria, pode renascer, estar feliz, mais tristinha... E a carioca segue padrões que a limitam a um olhar rasteiro: de preferência seremos loiras, teremos uma bunda workaholic e faremos chapinha!!
Em Sex and the City, quatro mulheres vivem experiências sexuais diversas em relacionamentos longos ou fugazes (que sejam!) porém se põe a prova em cada uma dessas experiências! Carrie, por exemplo, andando pela rua leva uma bela queimada de um cigarro que sem querer foi jogado enquanto passava. Se fosse no Rio a gata já estava xingando o cara de todos os nomes possíveis e imagináveis, pegava a reta e mandava praquele lugar!!! Porém, em New York tudo é diferente... Dali ela o convida para um café e surge a oportunidade de um encontro. O que vem ao caso é a oportunidade! A carioca tem uma postura fechada, sempre vendo no homem o erro. Claro, eles tb tem sua parcela nesse universo... Mas acho que existe sim uma super valorização de que, afinal, nossa bunda é o supra sumo, fazemos chapinha e somos loiras, logo, não é qq um que pode entrar na minha vida... E do outro lado, homens que não se interessam pelo todo, apenas vêem em parcelas, um olhar típico no país dos 12X sem juros...
Reclamamos da maneira como somos vistas, porém impulsionamos isso! Estamos entrando na segunda década do novo século e ainda somos piranhas se sairmos com diferentes homens. Somos vacas se dormimos de primeira. E somos vulgares se o único interesse for sexo casual. Isso falado por nós mesmas, julgando à nós mesmas... Nossa liberdade sexual é inexistente, porque não nos permitimos isso e deixamos no homem a certeza da imagem que somos socialmente. E, complementando, do outro lado existe um homem conformado com esses padrões! Não existe vontade de buscar o diferencial e de ter um olhar mais aberto e com outras expectativas. Ainda se vê no Brasil homens de 60 com mulheres de 20... Padrões de comportamento que já viraram marca de uma sociedade. (“O Europeu não é assim...!”)
Sociedades não-latinas já discutem o sexo na terceira idade em plenitude. Aqui? Mais tabus... A inexistência da liberdade na juventude leva a abstinência involuntária na velhice. Como não podemos perder a juventude, e a libido na nossa sociedade é visual e mantém um padrão estético, na velhice o sexo se torna constrangedor. Basta lembrar a brilhante cena de sexo entre Fernandona e Raul Cortez no filme “O Outro Lado da Rua”.
Ta certo, ninguém quer ficar velho... E mais uma vez, esbarramos no olhar estético. O vigor da juventude é injusto, eu sei... Mas se esse é o caminho natural, estamos buscando soluções inadequadas.
Claramente, nada disso é novidade! Mas defendo a qualidade da vida sexual em liberdade, desde que em um sentido de comum acordo e respeito, obviamente. O fato é que todos esses fatores tem um mesmo núcleo: a prisão em que mantemos nosso olhar prejudica toda a dinâmica da vida.